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...tudo invenções.
Vivia numa cidade, sonhava com uma aldeia, vislumbrava pardais e campo, borboletas e arvores apodrecidas ajudado pela ilusão de uma sexta feira à tardinha. Chovia mas sábado e sexta à tardinha revigoravam o sentimento de desobrigação: muito confortável. De facto, o que se passava era a simples constatação de acontecer e disso resultar a tal pergunta entretanto respondida.
Os prédios da cidade donos do horizonte, uma rua cheia de fieis a ruas onde vendiam cores nas lojas cuja montras pareciam festas, promessa de festas faladas por duas amigas em saldos a dizerem ter tido sorte. Um policia a marchar em direcção à esquadra de policias porque o dia é igual para todos e quem precisa de justiça tem sempre um policia na sua cabeça.
Como se disse, era fim de tarde, as obrigações estavam destinadas a outros e agora o limite seria observar resultando deste gesto mais ou menos imaginário a guarda de recordações sem proveito. O semáforo vermelho a mandar nos carros, até nos carros vermelhos e os condutores acobardados por saberem de antemão o castigo da desobediência. Rua abaixo, rua acima, com uma pequena parcela de rua esculpida para peões onde era cómodo andar apeado apesar dos encontrões constantemente evitados. A esta hora ninguém importa a ninguém. Importa ao vendedor ambulante quem passa e até estes fingem importâncias só até ao ultimo instante de um possível contacto comercial. Castanhas assadas à dúzia na panela de barro constantemente assanhada pelos braços vigorosos do assador. Sal de castanha um tempero formidável em canudos de uma lista telefónica. As cascas das castanhas outro prazer estalado pelos dedos finos de senhoras ou cavalheiros porque à dúzia é sempre mais barato e o calor comprado entre mãos constitui o duplo prazer de uma ilusão prontamente justificada pelo sabor do fruto assado em triciclos a carvão.
Duas mulheres sentadas numa futura paragem de autocarro sem se falarem apesar de terem as mesmas coisas nas malas de ombro assentes no banco metálico da guarida. Uma cruza a perna esquerda sobre a direita e a outra tem um telemóvel encostado ao ouvido, balbucia, fala com o aparelho enquanto passa dois dedos pelo cabelo alisando a franja do cabelo.
Nada se acrescentava, o tempo passara confirmando o equivoco da tentativa de uma contagem certeira dos acontecimentos naquela sexta à tardinha.
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